sábado, 24 de janeiro de 2009

Trecho do Livro: Passageiro da vida



"Dona Alfredina era um
personagem à parte.
Diziam que ela morava
em um Hotel , solteirona
durante toda sua vida,
e que o cartório onde
estava registrada
sua certidão de nascimento,
pegou fogo.
E em um novo ato de registrar,
ela teria alterado sua idade.
De cinqüenta e tantos,
virou mocinha.
E a jovem anciã teria se tornado
de fato uma jovem nos documentos
e continuou a ensinar música
nos idos dos anos.
Mas tinha o problema
do peso da idade.
Ela não escutava bem.
E durante as aulas de canto
o deboche dos alunos ao desafinar
em falsete, de propósito, produzia
crises na mestra.
Ela parava de tocar seu piano,
levantava a cabeça ‘a procura no
espaço por algo que seus olhos
não mais permitiam ver,
e saia a cata do debochador desafinado,
sempre alguém eleito por ela mesma.
E sem a menor cerimônia lascava um
sonoro bufete na face do suspeito,
geralmente inocente do fato.
Os risos eram gerais.
Naquele tempo o professore tinha
os poderes maternais e patriarcais,
para aplicar a correção
que julgasse necessária.
Como os juízes de hoje em dia."

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